sexta-feira, 20 de junho de 2014

Crítica: Godzilla (Godzilla, 2014)

Direção: Gareth Edwards
Roteiro: Gareth Edwards
Com: Aaron Taylor-Johnston, Bryan Cranston, Elizabeth Olsen






  Não sou o tipo de espectador que reclama de remakes, reboots, ou outras visões sobre obras já lançadas em outras mídias além do cinema. Aliás, quem me acompanha, sabe que esses são os filmes que sempre mais aguardo e anseio por ver, simplesmente porque me familiarizo com os personagens e sempre busco algo novo deles. Porém, é óbvio que, nem sembre essa ''crise criativa'' que ronda Hollywood por, no mínimo, 10 anos, acaba dando perfeitamente bem. Ao pegarmos esse ano de 2014 como ponto de partida, se o Robocop'' de José Padilha conseguiu ser tão bem sucedido ao trazer uma reinvenção ao personagem, o mesmo, infelizmente, não pode ser dito ao filme que teve a campanha de marketing mais maravilhosa do ano: ''Godzilla'' é um filme chato, arrastado, sem vida e com personagens tão vazios quanto a carga emocional inserida no longa.


  Vendendo erroneamente a premissa de um filme com uma proposta complexa e séria, ''Godzilla'' prefere ter uma história tola que se resume a um bicho que lembra um ''grilo gigante'' (com um bom design, nada de se encher os olhos), que consegue fugir de um estabelecimento e destruir tudo o que encontra, assim, o monstro Godzilla, acaba por aparecer por uns 20 minutos no filme inteiro e assumindo uma figura quase que de herói (lembra inclusive o Superman de ''O Homem de Aço'', ele quebra tudo mas pelo menos salva a cidade). Aliás, se mostrar pouco do monstro no início parece uma decisão acertada, quando chegamos a 1 hora de filme e não vimos nada além de um rugido (que é magnífico, por sinal), a coisa começa a ficar frustrante. Ao menos, o monstro é absolutamente perfeito visualmente e tem uma presença incrível, seu grito treme a sala inteira.


  E se pelo menos, em meio a uma trama desinteressante e bobinha, fossem desenvolvidos bons personagens, a experiência se tornaria no mínimo agradável, porém devido ao nível do roteiro não é o caso. Bryan Craston é o mais interessante, mas é simplesmente descartado em 30 minutos de filme, antes mesmo da coisa realmente ganhar ''vida'' (palmas para a campanha de marketing, ao colocar ele em todos os trailers como foco principal), sem falar em Julianne Pinoche, não seria absurdo em dizer que todo tempo em tela dela se resumo a no máximo uns 3 ou 4 minutos. Olsen, talentosa atriz, é apenas o rostinho bonito a ser conquistado pelo protagonista, esse interpretado por Taylor-Johnston, o ótimo Kick-Ass, aqui inexpressivo e unidimensional.


  O longa é basicamente sustentado pelo ato final, que tem início a uma cena absolutamente espetacular, que envolve o salto de um exército de um avião (se figura entre um dos melhores momentos de 2014 cinematograficamente falando), e o que vem depois é basicamente uma luta de 20 minutos entre três monstros, em batalhas fantásticas.


  Uma pena é que a melhor coisa do longa nós já tenhamos visto ano passado em ''Círculo de Fogo'', portanto, o que sobra em ''Godzilla'' é a chatice inexplicável, o vácuo emocional, a falta de interesse absoluta com os personagens e o mais do mesmo (mesmo que esse ''mais do mesmo'' seja bom). A sequência deve chegar com o mesmo marketing enganoso, só espero que o diretor dessa vez se equilibre na dose de sono.


NOTA: 5,0


 



domingo, 4 de maio de 2014

Crítica: O Espetacular Homem-Aranha 2: Ameaça de Electro (The Amazing Spider-Man 2, 2014)

Direção: Mark Webb
Roteiro: Alex Kurtzman, Roberto Orci
Com: Andrew Garfield, Emma Stone, Jamie Foxx, Dane DeHaan





  O ''mimimi'' é algo que me preocupa. Basta você dividir um livro em três filmes, basta você fazer um remake com uma abordagem diferente, basta você mudar a cor da pele de um personagem, ou então...basta você fazer um reboot com aspectos completamente diferentes, como é caso de nova franquia ''Amazing'', que as pessoas já entram no cinema pensando de que estão prestes a assistir uma bomba. O primeiro filme tem problemas ? Sim, mas eu particularmente gosto, porém entendo quem não curtiu. Já essa nova aventura, ''O Espetacular Homem-Aranha 2'', é um filme particularmente único: grandioso, ao mesmo tempo que íntimo, que passa qualquer sensações que nós sentimos lendo uma HQ, e, talvez, o filme de super-herói mais emocionante já feito até aqui (no mínimo, um dos, mas com certeza é o mais triste).


  Abrindo com uma sequência de ação absolutamente fantástica, que se passa em um avião com os pais de Peter (dessa vez numa história interessante), o filme introduz uma elipse sensacional, e já pulamos para um voo do Homem-Aranha, que aliás, tem uma caracterização brilhante nesse filme, como todas as piadas nas cenas de ação, e pequenos detalhes inseridos no roteiro que mexem com o espectador que gosta do personagem (as duas cenas envolvendo um garotinho, por exemplo, são incríveis). Sem falar que, assim como no primeiro filme, o Peter Parker dessa nova série se mostra infinitamente mais interessante e nos importamos muito mais com ele do que com o personagem de Tobey Maguire, por exemplo.


  E isso só é possível, é claro, devido ao carisma imenso e à excelente atuação de Andrew Garfield, depois desse filme já figurando entre as melhores personificações de um herói para as telas. Igualmente competente, Emma Stone faz de sua Gwen Stacy mais um vez uma mulher adorável. E não só pelo fato dos artistas namorarem na vida real, mas também o texto e a direção, fazem o romance do dois funcionarem perfeitamente bem, e talvez, ser o maior ponto alto do filme (o diretor Marc Webb retoma essa talento já visto no seu filme absolutamente perfeito ''500 Dias Com Ela'').


  O filme tem mais várias outras trama, em que a maioria, mas não todas, funcionam. Uma é a dos pais do Peter, que sim, é ótima, mas ao que leva tudo aquilo ? Absolutamente nada, poderia ser facilmente cortada e assim diminuindo a exagerada duração do longa. Outra coisa que incomoda, e é sobre um personagem que está no título do filme: Electro se revela um vilão bobo, que nunca representa uma grande ameaça e não tem uma boa presença, além de ser inspirado nos mais bobocas clichês, e tem uma motivação completamente absurda (uma falha de comunicação com o Aranha e pronto, temos o nosso Electro).


  Em contrapartida, Harry e sua relação com a Oscorp tem uma trama muito divertida de se acompanhar, e aliás, Harry Osborn se revela um vilão infinitamente melhor do que Electro, com motivações um pouco mais complexas, e seu Duende Verde é basicamente sinistro, daqueles de dar medo na garotada um pouco mais nova que vai ver o filme. E Dane DeHaan com todo seu tom ''dark'' se sai muitíssimo bem no filme.

                                                    



  Em meio a tudo isso temos Peter Parker tentando controlar sua vida pessoal, ao mesmo tempo tendo que encarar Electro e Harry, uma história que é muito bem conduzida pelo roteiro. As sequências de ação são ótimas, as duas iniciais já abrem o filme de maneira impecável (aliás, os voos do Aranha nesse filme são sensacionais), e as cenas seguintes só vão melhorando até chegar à impecável cena de batalha final contra o Duende Verde (que termina de uma maneira que todos devem saber).


  De bela fotografia, o visual de ''The Amazing Spider-Man 2'' transforma o filme em um verdadeiro gibi, com todas as cores e luzes possíveis. Os efeitos são excelentes, porém, é impossível não notar algumas falhas (como Electro em sua cena final, pior do que videogame, e o próprio Homem-Aranha numa cena logo no início do filme, que se passa dentro de um carro). A trilha do Hans Zimmer se sai bem, por mais que não se torne quase um coadjuvante no filme, como o compositor já fez em filmes como ''O Homem de Aço'', ''O Rei Leão'', ''A Origem'' e ''Batman- O Cavaleiro das Trevas Ressurge''.


  ''O Espetacular Homem-Aranha 2'' não é aquele filme redondinho que vai te fazer sair tremendo do cinema tamanha perfeição do longo. Não, não é, mas não exagero quando digo que a sensação é quase a mesma quando um filme consegue nos transportar de volta para os 8 anos de idade e esquecer de tudo por quase 2h30 de filme. E nisso, Webb, Andrew, Emma e Dane, acertaram em cheio.


NOTA: 8,0


 

domingo, 13 de abril de 2014

Crítica: Noé (Noah, 2014)

Direção: Darren Aronofsky
Com: Russel Crowe, Emma Watson, Logan Lerman
Roteiro: Darren Aronofsky





  A questão religiosa não será discutida aqui, mas devo avisar: os fundamentalistas mais fervorosos já podem fechar a página e por favor nunca voltarem e abri-lá. O que temos em ''Noé'' é uma visão de uma pessoa de bom senso sobre o que foi feito na lenda (sim, lenda, não fato) do dilúvio. Ou seja, o Criador (como é chamado no filme) matar milhões de pessoas é questionado no filme de maneira eficiente, sem mergulhar muito nisso mas também deixando bem claro no que ele acredita. ''Noah'' não é um filme religioso, é um filme que procura defender acima de tudo as questões humanas, e que coloca o homem acima da fé. Aronofsky proporciona isso adicionado com ótimo entretenimento no seu primeiro blockbuster.


  O filme não é todo profundo e não se afunda em seus temas como o diretor já fez no passado (nas obra-primas Cisne Negro e O Lutador), ele começa derradeiro porém logo se transforma numa experiência ótima: é emocionante, inventivo, tem reviravoltas, empolgante, e, pasmem, absurdamente tenso. O roteiro trabalha muito bem seus personagens, se você simpatiza com Noé no início do filme, aguarde que ele vem a se tornar quase um vilão. Os filhos também são bem construídos, cada um com a sua filosofia e seus problemas (destaque para Ila, que fica importantíssima ao recorrer do filme).


  O roteiro também acerta ao dar tons de cinza aos seus personagens (se o vilão é odiado no início, surpreendentemente ao longo do filme ele passa a ter certa razão no que fala, assim como Sem parece estar divido entre seu pai e os ''homens'', e Noé, como já foi apontado, vira o sujeito mais odiado da narrativa). O filme traz sequências brilhantes: a em que Noé conta a origem da vida aos seus filhos, que mescla Criacionismo com Evolução, é absolutamente brilhante, e também o fantástico plano em que vemos milhares de pessoas se segurando numa pedra, enquanto o dilúvio as mata.


  E se o início do filme parecia mostrar que veríamos algo completamente convencional, o incrivelmente tenso terceiro ato prova o contrário, em que ficamos a merce de um assassinato de um bebê. Outra boa adição à história inexistente na Bíblia: os Guardiões, criaturas com uma história interessantíssima, e tecnicamente com um design que lembra um pouco stop-motion, fica excelente, apesar de, particularmente, em alguns momentos enxergar certos problemas nos efeitos visuais.


  A trilha sonora de Clint Mansell é outra que deixa muito a desejar, principalmente após seu trabalho em ''Cisne Negro'' (por mais que ele acerte em cheio ao invocar um som perturbador quando Caim mata Abel, numa cena que se repete várias vezes e é forte por representar o nascimento do mal). Porém, mais uma vez Russel Crowe faz uma atuação completamente brilhante, em que vemos em seus olhos sua culpa em seus atos, ao mesmo tempo a vergonha e o mal inevitável. Outra que pode ser discutida é Emma Watson, completamente convincente e ótima, por mais que eu ainda espere sua ''grande'' atuação (que ainda não veio).


  ''Noé'' pode não ser o mais perfeito trabalho de um diretor como Aronofsky para seu primeiro blockbuster, ainda tem seus ataques de bobeira, porém, é inteligente e propõe discussões, e só por isso, já é maior que 90% dos exemplares de seu gênero.


NOTA: 8,0