Com: Russel Crowe, Emma Watson, Logan Lerman
Roteiro: Darren Aronofsky
A questão religiosa não será discutida aqui, mas devo avisar: os fundamentalistas mais fervorosos já podem fechar a página e por favor nunca voltarem e abri-lá. O que temos em ''Noé'' é uma visão de uma pessoa de bom senso sobre o que foi feito na lenda (sim, lenda, não fato) do dilúvio. Ou seja, o Criador (como é chamado no filme) matar milhões de pessoas é questionado no filme de maneira eficiente, sem mergulhar muito nisso mas também deixando bem claro no que ele acredita. ''Noah'' não é um filme religioso, é um filme que procura defender acima de tudo as questões humanas, e que coloca o homem acima da fé. Aronofsky proporciona isso adicionado com ótimo entretenimento no seu primeiro blockbuster.
O filme não é todo profundo e não se afunda em seus temas como o diretor já fez no passado (nas obra-primas Cisne Negro e O Lutador), ele começa derradeiro porém logo se transforma numa experiência ótima: é emocionante, inventivo, tem reviravoltas, empolgante, e, pasmem, absurdamente tenso. O roteiro trabalha muito bem seus personagens, se você simpatiza com Noé no início do filme, aguarde que ele vem a se tornar quase um vilão. Os filhos também são bem construídos, cada um com a sua filosofia e seus problemas (destaque para Ila, que fica importantíssima ao recorrer do filme).
O roteiro também acerta ao dar tons de cinza aos seus personagens (se o vilão é odiado no início, surpreendentemente ao longo do filme ele passa a ter certa razão no que fala, assim como Sem parece estar divido entre seu pai e os ''homens'', e Noé, como já foi apontado, vira o sujeito mais odiado da narrativa). O filme traz sequências brilhantes: a em que Noé conta a origem da vida aos seus filhos, que mescla Criacionismo com Evolução, é absolutamente brilhante, e também o fantástico plano em que vemos milhares de pessoas se segurando numa pedra, enquanto o dilúvio as mata.
E se o início do filme parecia mostrar que veríamos algo completamente convencional, o incrivelmente tenso terceiro ato prova o contrário, em que ficamos a merce de um assassinato de um bebê. Outra boa adição à história inexistente na Bíblia: os Guardiões, criaturas com uma história interessantíssima, e tecnicamente com um design que lembra um pouco stop-motion, fica excelente, apesar de, particularmente, em alguns momentos enxergar certos problemas nos efeitos visuais.
A trilha sonora de Clint Mansell é outra que deixa muito a desejar, principalmente após seu trabalho em ''Cisne Negro'' (por mais que ele acerte em cheio ao invocar um som perturbador quando Caim mata Abel, numa cena que se repete várias vezes e é forte por representar o nascimento do mal). Porém, mais uma vez Russel Crowe faz uma atuação completamente brilhante, em que vemos em seus olhos sua culpa em seus atos, ao mesmo tempo a vergonha e o mal inevitável. Outra que pode ser discutida é Emma Watson, completamente convincente e ótima, por mais que eu ainda espere sua ''grande'' atuação (que ainda não veio).
''Noé'' pode não ser o mais perfeito trabalho de um diretor como Aronofsky para seu primeiro blockbuster, ainda tem seus ataques de bobeira, porém, é inteligente e propõe discussões, e só por isso, já é maior que 90% dos exemplares de seu gênero.
NOTA: 8,0
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